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Hungria

A Hungria e o melhor aniversário da vida

Começamos nossa visita à Hungria como terminamos a Áustria, com muita chuva. Porém, boas e seguras estradas nos levaram, com quase um dia de antecedência, às proximidades de Budapeste. Lá, passaríamos a maior parte do tempo. 

Que boa a sensação de estar dando tudo certo para recebermos uma nova visita. Estávamos a poucas horas de distância da capital de um país distante do Brasil, e iríamos novamente encontrar pessoas da família. A expectativa de rever Douglas, Daia e Nicolas era um sentimento especial. 

Nesse primeiro dia na Hungria paramos em uma cidade muito antiga e interessante, Gyor. Bonita, antiga, e molhada! Não conseguimos andar muito pelo centro, então aproveitamos para ficar embaixo das cobertas, para esquecer a friaca das noites anteriores na barraca, e colocar os trabalhos em computador em dia. 

Saímos pela manhã, ainda sob mau tempo, em direção a Budapeste. Ficamos mais tranqüilos, pois a previsão do tempo para Budapeste não era ruim. 

“O sol há de aparecer!”. 

Após alguma surra com o trânsito local, chegamos ao nosso hotel, bem à beira do Rio Danúbio. O tempo já estava bem melhor. Deixamos o Pezão na entrada do hotel, fazendo propaganda, e fomos para o quarto, onde ficamos descansando ansiosos pela chegada do pessoal. 

Passadas mais de uma hora do horário previsto da chegada deles, cansamos de esperar e fomos para a recepção. Qual a nossa felicidade quando os avistamos na recepção fazendo o check-in! O Douglas abriu logo um sorriso, a Daia nos deu o abraço meigo de sempre e o Nicolas, enorme!, foi apertado pela tia Du até quase sufocar! Que bom que eles tinham chegado bem e que bom que estávamos nos reencontrando! 

Ficamos alguns minutos na recepção, até eles pegarem as chaves do quarto, e depois subimos todos juntos. Falávamos sem parar! Ficaríamos uma semana juntos em Budapeste, e queríamos aproveitar ao máximo. 

Saímos nessa mesma noite, no carro alugado por eles, para conhecer o castelo do lado “Buda” da cidade. (Nosso hotel era no lado “Peste”.) O castelo é fascinante. Demos algumas boas voltas no seu entorno, até sentarmos em um ótimo restaurante para nosso primeiro jantar. Comemos uma excelente comida (uma das melhores carnes que comi até hoje!) e bebemos alguns vinhos e cervejas. A alegria era nossa companheira! 

O Nicolas era atração à parte. A tia Du ficou com ele no colo o tempo inteiro. Com o tempo, ele foi começando a se soltar e a ficar cada vez mais à vontade. Aí, era um tal de “tia Du! Tia Du!” o tempo todo. A emoção da Du era transparente. A cada dez “tia Du!” vinha um “tio Nano!”, para minha total satisfação. 

Nessa noite fomos dormir realizados, imaginando a diversão que viria nos dias seguintes. 

Acordamos na quinta-feira quase no final do horário do café-da-manhã. Ligamos para o quarto deles dando uma de despertador, pois o fuso estava fazendo o tradicional trabalho de desregular o sono deles, e fomos todos juntos à mesa. Foi o primeiro de vários cafés-da-manhã divertidíssimos com  

Nicolas acabando por completo com a paz do lugar. Simplesmente a cadeira era o último lugar onde ele poderia ser visto. Era nesse momento do dia que ele começava a evocar toda a sua veia artística, – nessa parte, tio Nano e tia Du ajudaram muito! Desde visitas ao estúdio lá de casa, aos seis meses de idade, com direito à solo na bateria e tudo, até presentes como o cavaquinho e a gaita! Incentivo nosso não faltou! [risos] – cantando aos berros canções de autoria própria ou de terceiros. Ele era um espetáculo à parte! 

No primeiro dia em Budapeste, demos uma boa caminhada pelas ruas ao redor do hotel. Essas ruas, somente para pedestres, são extremamente agradáveis. Paramos para um bom almoço, regado, obviamente, à cerveja. À noite, saímos para jantar com um colega de trabalho do Douglas. 

O dia seguinte reservava ao Douglas uma cruel reunião de trabalho, pois ele teve que acordar às seis da manhã, e uma ida ao parque de diversões para o pessoal que estava de férias. Foi muito bom! O Nicolas correu por todo o parque, indo aos brinquedos que seu tamanho permitia. Nem mesmo o mau humor generalizado dos jovens pilotos de brinquedos do parque tirou a empolgação dele. No bate-bate, só ouviam-se seus gritos. 

Alguns episódios foram bem engraçados... Levei-o a uma mini montanha-russa. Estávamos sozinhos.  Fui no carrinho da frente e ele no segundo. Virei para trás e fui, quando ele deixava, segurando-o. A montanha-russa era bem calma, a exceção da última descida em curva, que era um pouco acelerada. Ele tomou um susto na primeira volta (eu também!), mas foi firme em frente e quase não se abalou na segunda volta. Quando parou e eu fui saindo do carrinho ele mandou: “agora eu dirijo!”, e entrou no carrinho da frente! Morri de rir. 

Outra engraçada foi no trem fantasma. A Du foi em um carrinho e a Daia e o Nick no de trás. Eu fiquei. No meio da volta, quando o carrinho dá aquela tradicional saída e passa por uma varanda, a Du me gritou bem alto. Não sabia se ela queria ser fotografada ou o quê, mas ela sumiu porta adentro antes de alguma reação minha. Logo depois, o carrinho chegou, e ela, ofegante: “O trem fantasma é sinistro! Umas partes muito escuras! O Nick deve estar apavorado, coitado...”. Nisso vem o carro da Daia e do Nick. Saímos correndo em direção a eles e, conforme previsto, o Nick começou a chorar. Quando nos aproximamos com o olhar do tipo “não tenha medo... Era de mentirinha...” ele começou a gritar: “mais! Mais! Quero mais!”. Começamos a rir, ficando ele sem entender porque o choro não fazia efeito, e fomos para os outros brinquedos. 

Curti meu dia de fotógrafo e a Du o dela de tia. 

Terminamos a tarde com o Nick correndo atrás de nós com as mãos totalmente lambrecadas de sorvete e dando risadas. 

Chegamos ao hotel e o Douglas já havia retornado. Demos uma descansada e ficamos pelo bar do hotel para o jantar. O único com pique para sair era o Nick! 

No sábado, fomos aos famosos banhos húngaros. Escolhemos um bem tradicional e arrumado, o Gellért. Piscinas quentes ao ar livre (e estava frio); piscinas quentes cobertas; saunas mornas, quentes e impraticáveis; e, no final, cerveja! Saímos de almas lavadas e dedos enrugados.  

De lá, fomos ao mirante Citadela - uma bela visão da cidade. À noite, demos mais uma volta para o jantar. As risadas foram garantidas novamente pela veia musical do nosso querido sobrinho – cada músico de rua recebia uma performance animada do pequeno artista brasileiro. Sorte do músico, que recebia uma moeda, e sorte nossa, que ficávamos apreciando eufóricos.  

Terminamos com mais uma saidera no bar do hotel e com mais conversas animadas. 

Domingo era dia de maratona na cidade. Após o café, fomos ver os corredores passando em frente ao hotel. O Nick ficou boquiaberto quando viu um figura correndo com a fantasia do coelho rosa das pilhas Duracell. 

Nesse dia, aproveitamos o carro alugado e fomos a uma cidade próxima, chamada Szentendrei. Foi uma grata surpresa. A cidade é muito bem arrumada e turística. O tempo estava excelente, então a caminhada foi muito agradável.  

Voltamos ao final da tarde para um dos grandes eventos da estadia em Budapeste: uma grande parte da família tinha se reunido na casa dos meus pais para almoçar e fazer um Skype com a gente. Paramos no restaurante do hotel e conectamos os computadores na hora combinada. Antes, a Raquel, uma grande amiga da Du, e seu marido, Rodrigo, apareceram também no Skype e foi sensacional! Não tínhamos conseguido falar com eles “ao vivo” até então! 

Logo depois, foi a vez da conexão com “Pendoba”! O lado brasileiro estava em grande estilo! Estavam lá, da família da Du: sua mãe, Sandra, a irmã Dani, a avó D. Elvira. Também foram, para total e agradável surpresa, sua madrinha Vanda e seu padrinho, Sílvio. Do nosso lado, estavam os anfitriões, meu pai e minha mãe, além de Alexandre e Dani, acompanhada da sua mãe, Carminha. Que fantástico! A Du não acreditou quando viu tanta gente e ficou emocionada.  

A internet é realmente impressionante. Por alguns momentos, toda a distância existente entre Brasil e Hungria foi extinta pelas viagens virtuais de um coro de “parabéns pra você” e de duas tortas iluminadas por velas com o número trinta e... deixa pra lá! Emoções convertidas em bites e bytes atingiram em cheio o coração da Du. Através de vídeo e som, conseguimos sentir por alguns momentos toda a energia positiva que a Du recebia dos nossos familiares. Foi incrível. 

Pessoal, esse momento foi muito especial para nós. Especialmente para a Du. Não temos palavras para agradecer tanto carinho.  

O lado húngaro do evento, organizado por Douglas e Daia, não ficou para trás e sacou também uma torta. Com direito a “happy birthday to you”, entoado pelos garçons do bar do hotel, o momento foi, efetivamente, uma farra. A nossa gritaria, em frente ao computador e entre nós, era uma ilha de alegria no requintado ambiente do Sofitel.  

Demos a comemoração por encerrada, nos despedimos do pessoal, e devolvemos a paz ao lugar. Fomos jantar, ainda um pouco anestesiados, e tivemos a excelente torta por sobremesa. 

No nosso último dia inteiro, efetivamente o dia de aniversário da Du, aproveitamos para dar uma volta na rua de gala da cidade, a Andrássy. Caminhamos um bocado, aproveitando a excelente temperatura e passamos em frente ao Museu do Terror, dedicado às vítimas do nazismo e do comunismo da história húngara. Em frente ao museu, tem lugar um impressionante monumento que retrata a chamada Cortina de Ferro.  

Voltamos a tempo de almoçar perto do hotel e ver, novamente, as performances vocais e dançantes do Nick. Um fenômeno. Ele simplesmente não resistia a um músico de rua, mesmo sem platéia. Era o nosso “ventania mirim”! Um dos músicos, provavelmente um cara desgostoso por achar que seu incrível talento estava sendo, para infelicidade das atuais e futuras gerações da humanidade, desperdiçado nas ruas de Budapeste, não gostou. 

O cara estava tocando um violão amplificado e sendo acompanhado por um MP3 player. O Nick entrou na frente dele e mandou um bravo acorde, misturado com um sapateado totalmente ritmado, como que o chamando para a parceria. Nisso o cara começou a se mexer todo e parou. O Nick também. Ele pegou o player e colocou outra música. O Nick escutou e ficou estático, respeitando o seu sócio. O Eric Clapton dos pobres iniciou as primeiras notas e o Nick, em um pulo, voltou a dançar! O figura não levou fé no que estava vendo. Ele voltou a parar a música, coçando a cabeça, e trocou novamente o gênero. O Nick retornou ao embalo inicial e às piruetas. O cara estava ficando enlouquecido! 

Duas senhoras se aproximaram, morrendo de rir, e deram uma moeda para o Nick colocar no chapéu do seu dupla. Ele não entendeu bem, mas, guiado pelas senhoras, colocou a moeda lá. Se ele falasse tão bem como dança, ele diria: “bora parceiro! Mantém o ritmo aí que tá dando certo!”. Mas o dono da incompreendida arte e do desperdiçado talento não pescou o potencial da arte brasileira em miniatura e desligou por completo o aparelho e saiu praguejando em húngaro que daquele jeito não dava. O Nick fez uma cara de “Parou por quê, brother?!” e fomos embora dando risadas. 

À noite fomos para um passeio de barco pelo Danúbio. Confesso que não sou fã número um deste tipo de programa, mas, como era mais um evento de comemoração do aniversário da Du e, como a trupe estava empolgada, seria pelo menos engraçado. Confesso também que queimei a língua. O passeio vale à pena. A visão das margens do Danúbio à noite é espetacular. As fotos ficaram excelentes, e a diversão a bordo foi garantida pelas cervejas e pelo “parabéns pra você” ao som de violinos. A emoção ficou por conta da entrega dos presentes da Du. Tanto do Douglas e da Daia, quanto da irmã e da mãe. Além de um emocionante cartão da avó. 

O dia seguinte era, novamente, de despedida. Tomamos café um pouco mais tarde e começamos a preparar o carro. O pessoal também começou a arrumar as malas. Tivemos tempo para mais uma volta pelo Centro de Peste e, enfim, dissemos o “até logo”. Longos abraços e beijos e, depois, um último adeus. 

Douglas e Daia, a visita de vocês foi simplesmente incrível. Obrigado por fazer-nos sentir um pouco em casa e por nos darem essas “férias” de pessoas estranhas e idiomas diferentes. Muito obrigado também por trazer o Nick. Foi o melhor presente de aniversário que a Du poderia desejar. Ficamos muito felizes por tudo ter saído bem e por vocês terem voltado em segurança. Aproveitamos cada momento e vamos guardar essas lembranças para sempre. 

Depois do clima choroso da despedida, era a hora de dizermos adeus também a Budapeste e rumar para a Romênia. O caminho era longo, e precisaríamos de mais uma noite na Hungria. Pegamos a estrada principal e começamos a rumar leste. Quem também sentiu saudades nossas e resolveu aparecer? A chuva! Passamos a tarde inteira na chuva e paramos na cidade de Szeged. Como chovia bem, paramos em um hotel e não saímos de lá. Para o jantar, apelamos novamente para a pizza. 

Acordamos cedo e cruzamos, sem problemas, a fronteira com a Romênia. Estávamos nos dirigindo para a Transilvânia e, obviamente, iríamos passar pelo castelo do famoso Conde Drácula. 

A visita à Hungria foi marco da viagem. Na verdade, tudo praticamente se resume à cidade de Budapeste e seus arredores. Eles ficarão para sempre em nossa lembrança, em um espaço muito especial, preenchido pelos sorrisos de Daia, Douglas e Nick! 

Alho e crucifixo na mão, vamos à Transilvânia!