Europa

Alemanha

A Alemanha, seus muros e suas maçanetas

E lá vamos nós para a Alemanha! 

Acordamos cedo em Amsterdam e começamos a desmobilização pro início da viagem. A distância para Berlim era razoavelmente grande, então, a programação incluía uma parada estratégica em Hannover

Eu e a Du saímos, logo após o café-da-manhã, pra buscar o Pezinho no Estádio Olímpico. Na volta, Jararacas de mala e cuia nos esperando pra embarcar. Colocamos o hotel de Hannover no GPS e fomos em frente. O clima era extremamente festivo e a viagem seguiu em total tranqüilidade. 

Paramos para almoçar em um restaurante conjunto a um posto de gasolina e seguimos em frente. As lembranças de Amsterdam ainda estavam com a gente, então ríamos a cada minuto. 

Chegamos ao hotel de Hannover, que nos pareceu muito bom, ao final da tarde. Já na recepção, a atendente estava fazendo nossos registros e nos entregando as chaves. Para variar, eram aquelas chaves eletrônicas. Em determinado momento, ela sacou uma maçaneta completa que estava encaixada em um pedaço de porta. O conjunto tinha o tamanho de uma caixa de sapatos. Com aquele trambolho em mãos, ela fez umas duas simulações de como deveríamos proceder para abrir a porta. Minha mãe ficou olhando com um olhar ressabiado e, pela velocidade do inglês da atendente, vi que ela não estava pescando muita coisa. Mas, tudo bem... 

Quando as Jararacas chegaram ao quarto, gritaria! Tinha frigobar! As duas tomaram até uma água gelada pra comemorar... Demos uma pequena descansada e saímos para uma volta. O pôr-do-sol estava estupendo, então tentamos achar um lugar legal pra tirar umas fotos. Andamos ao acaso no centro de Hannover, mas não tivemos muito sucesso. Como já eram quase dez horas da noite, achamos melhor dar meia volta e ir ao restaurante situado próximo ao hotel. Dito e feito, o restaurante estava fechado. Acabamos, após certa correria, em um pequeno restaurante com um pessoal muito boa gente e demos a sorte de terem excelente comida. 

Saímos logo pela manhã em direção a Berlim. Entramos, finalmente, nas primeiras Autobans sem limites de velocidade. Na verdade, os pontos sem limites são escassos, mas aproveitamos esses momentos para melhorar o ritmo da viagem. Deu para ir até cento e setenta com o Pezinho, e a diversão ficou por conta de implicar com a minha mãe, que ficou muito nervosa. A Sandra não esconde o gosto pela direção mais rápida e não se abalou. Vale ver o vídeo! 

Saímos da estrada para almoçar e tivemos a sorte de encontrar um local ponto de encontro de motociclistas. Era um domingo, o que garantiu a movimentação dos bares e restaurantes. Aproveitei para dar uma passeada pelas motos estacionadas e curtir a saudade das trilhas. 

Com o bom rendimento nas estradas, chegamos ainda cedo a Berlim. Colocamos as bagagens no quarto e fomos dar uma volta. A Sandra já tinha tudo mapeado no pequeno guia de bolso. Partimos direto para a Potsdamer Platz, um dos lugares mais interessantes de Berlim e bem perto do nosso hotel. Na chegada, tivemos o primeiro contato com um pedaço do Muro de Berlim. Assim como em diversos outros pontos da cidade, há pequenos trechos do muro que foram mantidos em seus locais originais e transformados em monumentos. E assim remanescia um trecho de cerca de dez metros de comprimento na Potsdamer Platz. Encontrar o muro é, no mínimo, impressionante. É impossível permanecer inalterado ao tocar o muro com as mãos. Estar próximo de um objeto que representou aspectos tão relevantes da humanidade do século passado faz você sentir-se parte da História. 

Sentamos em um agitado restaurante para uma pizza e umas cervejas. Saímos animados pelas ruas indo em direção ao hotel, não sem antes sermos interrompidos pela passagem de uma procissão de patinadores noturnos, escoltados pela polícia. Tinham tantos policiais em motos que parecia a passagem de um chefe de estado. Mas eram só patinadores...  

Voltando à caminhada, no meio do papo, minha mãe confessou os pensamentos que povoaram sua mente durante a apresentação da tal maçaneta de Hannover. Ela simplesmente teve um ataque de riso de perder o fôlego. Mal conseguia chegar ao final da história! Foi hilário! 

- Gente! [risos] Eu vou confessar uma coisa: não estava entendendo muito bem o que a recepcionista do hotel em Hannover estava falando [mais risos] na hora da entrega das chaves, mas, quando vi aquela maçaneta imensa [mais risos ainda] na mão dela, achei que ela ia entregá-la pra gente! Pensei: “vão ser seguros assim no raio que o parta! [gargalhadas] Até a maçaneta da porta eles tiram! [mais gargalhadas] Agora, como vamos fazer pra andar com essa porcaria imensa na bolsa?! [mais gargalhadas, lágrimas e falta de ar!]”. 

Muito bom! A cena da minha mãe tirando os óculos, para enxugar as lágrimas de tantas risadas, está até agora gravada. 

No dia seguinte pegamos o Pezinho para conhecer outros pontos turísticos da cidade. Fomos ao museu judaico e, após mais algumas voltas, terminamos em uma bela praça onde aconteceria a apresentação de uma orquestra. Sentamos em um restaurante próximo e curtimos um excelente jantar, com um ótimo vinho, ouvindo o som da orquestra ao fundo. Esse jantar iniciou as comemorações do aniversário de seis meses da nossa saída, o que aconteceria no dia seguinte. Praticamente um evento! 

Voltamos ao hotel um pouco cansados. Ficou claro que precisávamos dar uma leve pausa. Combinamos em ir, no dia seguinte, a Dresden, uma cidade turística ao sul de Berlim, e depois fazer um day-off. Descansaríamos no nosso último dia em Berlim para recarregar as energias para a visita à Praga. 

A viagem à Dresden foi muito boa. Como estávamos comemorando os seis meses de estrada, seríamos inteiramente bancados nesse dia! Almoço, jantar e biritas por conta das Jararacas!  

Novamente, as estradas ajudaram e chegamos bem rápido. Estacionamos a tempo de dar umas boas voltas pela cidade e fotografar bastante. Dresden sofreu bastante no final da Segunda Guerra, sendo quase totalmente destruída em um incessante bombardeio que durou três dias. Os pontos altos da visita ficam por conta do imenso trabalho de reconstrução, que é ilustrado de forma magnífica pela catedral. Essa igreja, que foi praticamente ao chão durante o bombardeiro, está totalmente reconstruída. O fato mais impressionante fica por conta da meticulosa tarefa de reaproveitamento de algumas pedras originais na reconstrução, mesclando partes originais e áreas inteiramente novas. 

Saímos de Dresden em direção à Berlim. No caminho, paramos em uma minúscula cidade, chamada Meissen. A cidade era muito agradável e rendeu mais algumas boas fotos. Depois da rápida visita fomos, como diria minha mãe, de volta para o nosso “complexo hoteleiro”. 

O próximo dia era de descanso. Demos somente um pulo na East Side Gallery: uma parte bem maior do Muro de Berlim que foi mantida e transformada em galeria de arte, com inúmeros painéis pintados no próprio Muro. Novamente, o contato foi bem interessante. 

Descansamos à tarde e fomos, na manhã seguinte, para estação de trem. Era hora de entregar o Pezinho e pegar o trem para Praga. 

A estação de trens era muito bonita e organizada e o trem, pra variar, chegou exatamente na hora marcada. Entramos todos, com mais ou menos o dobro de malas do que a média dos passageiros, e entulhamos inteiramente uma cabine. O trem partiu. 

A visita à Berlim foi ao mesmo tempo muito interessante e um pouco frustrante. A parte boa foi a forte presença em seus muros (em alguns momentos, literalmente) de uma fase importante da nossa História. A parte ruim ficou por conta da comparação do clima da cidade, pelo menos na parte que vimos, com as demais capitais que visitáramos. Não encontramos a leveza de Bruxelas e não sentimos a descontração de Amsterdam. A comparação é cruel, porém inevitável. Seqüelas que o tempo, certamente, vai fazer o trabalho de amenizar. 

E lá vamos nós em direção a uma ex-Cortina de Ferro, a República Tcheca!