Europa
Holanda
Entre o sexo e o pavor da Holanda
Rumamos rapidamente para a Holanda. Como a Du estava dirigindo o Pezinho sozinha, queríamos zarpar um pouco mais cedo para não demorarmos muito tempo até a chegada. Nosso destino era Amsterdam.
Porém, não iríamos até lá sem antes passarmos por uma pequena cidade chamada Oisterwijk. O objetivo era conhecer uma oficina especializada em Land Rovers, indicação de um casal muito boa gente que tínhamos feito contato por email, para realizar uma revisão básica no Pezão. A idéia seria, além de uma vistoria nos pontos críticos, como embreagem, freio, fluidos, etc., reparar alguns pequenos itens e instalar outros equipamentos, pensando na África. Tínhamos rodado quase trinta mil quilômetros e precisávamos ver como o carro estava reagindo ao maior peso. Apesar de não haver nenhum indício de maior desgaste, seria importante conhecer o estado de algumas peças.
A oficina, que fica na periferia da cidade, era fantástica! Um paraíso pra quem gosta da marca. As Jararacas adoraram o passeio e se divertiram na loja. Realmente o clima estava excelente. Até oficina mecânica era bom programa.
Saímos para um almoço tardio no centro da minúscula Oisterwijk. A cidade era extremamente calma, embora houvesse um aparente turismo local. Apesar da vontade de rumar o mais breve possível para as próximas etapas, não nos pareceu ruim descansarmos um pouco por ali durante os dias de trabalho no Pezão.
Almoçamos bem e nos mandamos para Amsterdam.
A chegada foi bem tranqüila. Nosso hotel ficava nas redondezas do centro da cidade, mas fora do seu agito, sendo suas ruas muito calmas e de trânsito fácil. Um fato estranho para uma capital. Estacionamos exatamente na porta do hotel, outro fato muito estranho. Na recepção, falando com um figura meio de saco cheio, começamos a entender o porquê: ter carro na Holanda, e especialmente em Amsterdam, não é algo muito barato. A começar pelo preço do estacionamento. Estacionar na rua em frente ao hotel custava quatro euros por hora. Mais um pouco e o Pezinho pagaria mais pra dormir na rua do que a gente pelo hotel. Isso, aliado à oportuna topografia plana, explica a enorme quantidade de bicicletas na cidade. O recado é: largue seu carro e ande de bicicleta! Sorte da Du, que fez um trabalho incrível fotografando as magrelas.
Optamos, então, por colocar o Pezinho no estacionamento do estádio olímpico da cidade e deixá-lo por lá durante os dois dias. Na saída do estádio, o clima de euforia subiu à cabeça e nos fez encher duas estátuas com várias echarpes para tirar fotos! Rimos como crianças! Espero não termos ofendido nenhum ícone do passado desportista holandês...
Pegamos o metrô de superfície e fomos direto para o Centro, para ver a agitação. De maneira similar às suas redondezas, o Centro de Amsterdam não possui trânsito pesado. Realmente, carros não são dos mais comuns. Pelo menos, não na quantidade que se espera ver em um centro de uma grande cidade. Porém, o alvoroço é garantido pelo número de pessoas e bicicletas nas ruas. É simplesmente fantástico. A quantidade de bicicletas rodando, e estacionadas!, é impressionante! Por vezes, vemos um estacionamento repleto de bicicletas tombadas, transformando o reduto das magrelas em uma pequena montanha de metal. É impossível olhar para essa obra caótica sem imaginar o que aconteceria se o dono de uma das bicicletas da meiúca chegasse.
Começamos a nos aproximar da área mais badalada. O clima de liberdade era geral. As pessoas na rua vestem o que querem, usam o cabelo do jeito que lhes convêm, fumam o que quiserem, e ninguém está nem aí. Demos uma primeira volta com as Jararacas e nos divertimos muito. Elas entraram em todas as lojas de suvenires que puderam e a Du se esbaldou fotografando as duas. Desde os famosos tamancos até os mais picantes brinquedos, as duas não perderam a oportunidade de ver as novidades... Até em coffee shop nós entramos!
Lá pelas onze da noite, recolhemos o trem de pouso e fomos para o hotel.
No dia seguinte, partimos para um programa mais cultural, com a visita ao museu do Van Gogh. Ele ficava bem próximo e possuía o maior acervo do artista. Logo depois, voltamos ao Centro e fomos a um museu de cera, chamado Madame Tussauds. Já no início do museu, depois de ver algumas poucas estátuas de personagens medievais, aparece uma bifurcação. Idosos, crianças e pessoas cardíacas são aconselhadas a ir por outro lado. Estava óbvio que era uma parte de susto. Respiramos e partimos. As Jararacas foram no vácuo. O corredor começou a ficar muito escuro e logo não se via nada. Eu era o primeiro da fila. A Du cravando as unhas em mim e as Jararacas agarradas nela. De repente, o primeiro susto! Um ator pulou na nossa frente gritando. As risadas correram soltas. Depois, muitos barulhos de corrente e umas estátuas de cera de corpos estripados. Mais escuro, e mais susto com os atores. Depois de uns cinco minutos de teste cardíaco, estávamos na saída do corredor. As Jararacas respiraram aliviadas!
Ainda ofegantes, passamos pra parte mais calma do lugar. Começaram as personalidades mundiais. Algumas figuras conhecidas, outras nem tanto; algumas muito perfeitas, outras um pouco tortas; o fato é que o museu é diversão garantida. Pra variar, as Jararacas deram show. Pra variar, a Du tirou excelentes fotos.
Já de volta à rua, fomos caminhando em direção ao Red Light District. A quantidade de sex e coffee shops triplicou. Minha mãe ficou olhando com uma cara curiosa... Pouco à frente, após cruzarmos uma rua inteira das famosas prostitutas, aquelas que ficam na vitrine, ela mandou, ainda meio atordoada pelos sustos no museu de cera:
- Esses holandeses são realmente muito esquisitos... Só querem saber de sexo e pavor!
Pronto! Essa era a frase do dia! A partir dali, tudo era esquisito, ou sexo, ou pavor. Ou todos ao mesmo tempo!
Saímos dali para tomar cerveja em Leidseplein, um excelente local, com inúmeros bares e restaurantes. Tudo muito esquisito! Em certo momento, começou a exibição de um malabarista quase pelado! O figura mostrava muita habilidade e força nos movimentos, enquanto era erguido por uma corda. Mas ele chamava mesmo a atenção pelos, digamos, bons anos já vividos. Não vou arriscar palpitar a idade dele, vejam vocês na foto, mas o contraste entre uma manobra arrojada, pendurado por uma das mãos somente, e os pequenos óculos de leitura usados pra trocar a música da exibição foi, no mínimo, curioso.
Voltamos para o hotel um pouco mais cedo, pois a pilha estava no fim. No dia seguinte, iríamos para a Alemanha.
Amsterdam foi um dos pontos altos da viagem. A desenvolvida forma como a liberdade individual é encarada provoca grande admiração. Não tínhamos dúvidas de que precisávamos voltar lá. Porém, o destino da Jararacas’ Trip era Berlim! Estávamos ansiosos por andar nas famosas Autobans, estradas sem limite de velocidade, e poder ver ao vivo algumas marcas históricas de difíceis períodos da humanidade, como o Nazismo e a Guerra Fria.
Continuamos em frente! Principalmente sendo tudo tão esquisito...