América Central
Honduras
Honduras – a travessia
Realmente, uma das mais difíceis tarefas nesta viagem não está sendo decidir aonde ir, e sim, aonde não ir. Por mais que a agradável sensação do novo nos traga motivação extra para seguir conhecendo e experimentando, há um limite. Um limite de tempo. E ao mesmo tempo, há uma meta. Nesse balanço, por diversas vezes, temos que fazer escolhas a respeito de quais pontos de potencial interesse serão conhecidos e quais não. Por vezes, decidimos passar direto por algumas regiões de determinado país; por vezes, por todo um país. Aconteceu assim na Venezuela. Aconteceu em Honduras.
Nosso planejamento inicial era passar alguns dias em Honduras e conhecer, principalmente, a ilha de Roatan. As imagens que vimos durante as pesquisas na internet impressionavam. De Roatan, seguiríamos para Belize, através de um ferry direto de Honduras. Estávamos abrindo mão da Guatemala.
Porém, nossa expedição não tem objetivos locais, e sim continentais. Queremos conhecer Américas, Europa, África e Ásia, mas a determinação de quais países serão visitados será feita de acordo com o que formos descobrindo e com o ritmo que conseguirmos imprimir. Sempre nos pareceu impossível e um tanto quanto claustrofóbico programar a viagem decidindo previamente, com exatidão, quais países seriam visitados. Temos datas macro para estar em cada região, mas a programação detalhada é feita durante o caminhar. E assim, tomamos a decisão de preterir Honduras em prol da Guatemala, país que, nas nossas pesquisas recentes, mostrou-se imensamente mais promissor. “Vamos então à Guatemala!”, comemoramos. A questão determinante para a existência desse diário é que Honduras fica entre a Nicarágua e a Guatemala, então precisávamos cruzá-la. Foram somente três dias em um país que sofreu recente golpe de estado – que incluiu a participação próxima de brasileiros, através da guarida ao ex-presidente Manuel Zelaya em nossa embaixada e outros posicionamentos da diplomacia brasileira. Não sabíamos qual era o clima no país.
A primeira circulada por Honduras, incluindo o trato com o pessoal da calorenta fronteira e o trânsito na estrada, nos pareceu extremamente positiva. Inclusive constatamos uma melhora no cenário geral, se comparado ao da Nicarágua.
Seguimos pela estrada sem maiores novidades até chegarmos, já no início da noite, à capital Tegucigalpa. Chegar a uma cidade à noite é sempre ruim, em especial às capitais. Tínhamos mapa e GPS, porém, como simplesmente não há nomes nas ruas, a navegação torna-se praticamente impossível. Paradas em postos de gasolina e abordagens a transeuntes são extremamente freqüentes. As palavras mais usadas nessas horas, até chegarmos a um hotel, são: “hola, una ayuda por favor!”. Apesar da comum boa vontade, a dificuldade em dar informação dos hondurenhos é incrível. Realmente é de se esperar, tendo em vista que eles não utilizam nomes nem números nas ruas, ficando a orientação por conta exclusivamente dos prédios e locais de comércio! O que fazemos é ouvir por alguns segundos o nosso guia temporário, olhando fixamente para suas mãos e para a direção do seu olhar, para depois então seguirmos adiante na suposta direção apontada. Duas esquinas à frente... “hola, una ayuda por favor!”.
Assim, chegamos a uma praça rodeada por hotéis e fomos muito bem recebidos em um deles. Cansados, jantamos e desmontamos. Ainda tínhamos a esperança de avançar no dia seguinte e chegar mais próximo da fronteira com a Guatemala, mas não nos pareceu produtivo. Optamos por ficar o dia seguinte na capital e sair somente no outro para uma pernada mais longa, até a cidade de Santa Rosa de Copán, a menos de duas horas da fronteira. Aproveitamos a estadia para ficar um pouco na horizontal e postar o diário da Nicarágua. Não nos motivamos em sair para conhecer um pouco mais a cidade, e contentamo-nos com o entorno do hotel.
No domingo, saímos bem cedo para a estrada. A viagem não rendeu muito, pois a quantidade de obras de duplicação era incrível. Apesar dos atrasos, a luz do dia ainda nos acompanhava na chegada à Santa Rosa. Paramos em um hotel simples e dormimos cedo. O dia seguinte nos reservava quase quatrocentos quilômetros de muitas curvas e uma fronteira no meio do caminho.
Após alguns quilômetros rodados em uma segunda-feira ensolarada, chegamos a uma das fronteiras entre Honduras e Guatemala. A saída de Honduras foi bem simples e a entrada na Guatemala seguiu de igual forma. Aliás, essa evolução das fronteiras é um dos pontos altos da viagem. Estava outro dia comentando com a Du qual o meu nervosismo quando estávamos nos aproximando de uma fronteira. Lembro bem das passagens do Chile para o Peru e do Peru para o Equador. Porém, com o tempo, tais processos tornam-se tão similares que acabam caindo, de certa forma, no cotidiano. A diferença do aparato burocrático tem simplesmente aumentado o tempo para conseguirmos passar, mas não temos sentido algum risco iminente. Conseguimos aprender a lidar bem com algumas más vontades e com os incansáveis ofertantes de serviços de despachante. Isso pra nós tem sido muito gratificante, pois chegamos a ouvir frases do tipo “as fronteiras da América Central são muito perigosas!” e “as pessoas têm atravessado em comboio!”, o que de forma alguma foi a realidade para nós. Esperamos que continue assim. Temos ciência de que cruzar do México para os Estados Unidos é bem mais complicado e que, mais à frente, países do Oriente Médio e da África não vão nos dar moleza, mas as experiências nas Américas do Sul e Central têm sido, até agora, melhores que a encomenda.
Entramos na Guatemala dispostos a procurar aventuras. Vulcões e ruínas Maia são as principais atrações. O Pezão está ansioso por subidas e a fotógrafa por paisagens! De certo, eles as terão!