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Moçambique
Moçambique – Oceano Índico, prazer em conhecer
Língua portuguesa! Depois quase um ano fora, tínhamos subestimado o quanto a língua natal pode fazer você se sentir em casa. E como abre portas também. Durante a passagem pela fronteira era visível a maior simpatia dos oficiais pelo fato de não precisarem usar seu precário inglês. Foi rápido, descontraído e em português.
Essa agilidade foi nossa salvação. Tínhamos ainda quase 120 quilômetros pela frente, até a cidade de Tete, e já passavam das quatro da tarde. Dentro do limite das nossas expectativas, as estradas também ajudaram – não eram boas, mas achávamos que seriam bem piores. Rodamos tranquilamente, sendo nossa paz somente quebrada pela iminência de uma pane seca. Entrei com o Pezão um pouco vazio, pois o combustível no Malaui era significativamente mais caro. Não sem antes verificar no GPS a existência de duas ou três cidades próximas com postos de abastecimento. Porém, o avançar da hora nos derrubou, e esses postos, em cidades muito pequenas, estavam fechados. Sem opção, fomos em frente. Pelas minhas contas, para conseguirmos chegar a Tete, o Pezão deveria fazer um consumo melhor do que a média dele. Como? Fácil! Precisávamos somente de um pouco de sorte. E a sorte veio através da gravidade, pois a esmagadora maioria do trecho era de uma leve descida. Saímos dos quatrocentos metros da fronteira para menos de cem em Tete. Moleza! Na verdade, foi mais para “Ufa!”. Se fosse subida ao invés de descida...
Tete mostrou-se mais civilizada do que prevíamos. Alguns prédios novos e muito movimento. Acabamos em um hotel razoavelmente novo, por conta de europeus. Chegamos totalmente moídos, com energia somente para tomar banho, comer e desabar. A perda de altitude cobrou seu preço na temperatura e o calor e a umidade começaram a mostrar as garras. Acordamos, abastecemos!, fizemos compras e partimos.
Nosso objetivo era chegar ao litoral o mais rápido possível. As estradas continuaram boas e, após uma parada na cidade de Chimoio, que por sinal era ainda mais desenvolvida, com direito às primeiras franquias de fast foods depois de um longo tempo, chegamos a Vilanculos, atingindo pela primeira vez o litoral do Oceano Índico – mais um marco para a viagem!
Depois da moleza de ficar em hotéis, era hora de voltar a acampar. Paramos em um camping bem legal, à beira-mar. A praia não decepcionou, apesar de não ser do formato que mais gostamos. Ela era rasa e abrigada, mas as embarcações encalhadas pela maré vazia e a água cristalina rendiam boas paisagens e fotos. Nossas instalações dispunham também de uma operadora de mergulho, então tivemos nosso primeiro contato com o fundo do Índico. Como o tempo não ajudou a visibilidade, com alguma chuva e muito vento, optamos por uma simples apnéia que, por sinal, não foi grandes coisas. A comédia ficou pela cara de pavor da Du quando fomos cruzar com o bote as imensas ondas do arrecife de corais. Pânico total! O acidente no rafting realmente a deixou traumatizada! O ponto alto foi, sem dúvida, a parada no arquipélago de Bazaruto. Enquanto o pessoal do mergulho autônomo fazia o segundo mergulho, fomos deixados nesse arquipélago para aguardar. Inacreditável! O sol ajudou nessa hora e, após uma caminhada de meia hora, nos afastamos do grupo que ficou na ilha e curtimos uma praia incrível, inteiramente sozinhos. Bem-vindo ao Oceano Índico!
Aproveitamos os dias de sol. Juntando com o tempo no Lago Malaui, estávamos completamente torrados. Nesse mesmo camping em Vilanculos, conhecemos um casal britânico engraçadíssimo. Mike e Christina eram muito animados e estavam dando uma volta pelos países do sul do continente em um inacreditável Defender 1972. Era um exemplar azul do segundo modelo construído pela Land Rover. Tínhamos passado por eles na estrada em direção ao litoral e o que nos chamou a atenção foi que o carro andava completamente torto, como se tivesse sido atingido por uma poliomielite na infância. O feixe de molas traseiro esquerdo tinha simplesmente pedido o boné, e não mais sustentava a parte do peso que lhe cabia. Tão fascinante quanto engraçado. Não para o Mike. Ele já foi mecânico, o que facilitava a manutenção do vovô Land, mas o velhaco estava dando mais trabalho do que a encomenda. Segundo ele, todos os dias havia algo para consertar. Quando o conhecemos, ele estava entretido com o alternador, que também tinha desistido. Quando vi na mão dele o alternador “reserva”, percebi o tamanho do drama: havia mais silver tape do que metal no bicho! Falei que achava legal e que curtia os pequenos consertos que pintavam no Pezão. Ele falou que a graça tinha ficado algumas semanas e centenas de quilômetros atrás. Ele já estava de saco cheio.
Nós nos demos super bem, então combinamos de seguir juntos para a próxima parada: Tofo. Esse era nosso destino prometido para o réveillon, um dos mais famosos do Moçambique, então estávamos animados. A viagem foi muito divertida com o Trovão Azul na nossa frente. Começou uma repentina chuva, que parou tão rápida como veio. Não menos repentino foi o aparecimento das mãos da Christina pela janela espremendo um pano encharcado. Nós brincamos muito com eles, apesar de saber que eles já estavam exaustos de lidar com o coroa de quatro rodas.
Certo momento Mike parou subitamente. Era uma mistura de oficina mecânica com ferro-velho à beira da estrada, repleto de Lands antigos. Paramos para ver de tudo. Tinha um exemplar do primeiro modelo, anos sessenta, com os faróis ao lado do radiador. Lá, Mike comprou um feixe de molas usado. Não dava para ver o estado, mas dificilmente poderia ser pior. Por menos de dez dólares valia à pena arriscar.
Chegamos a Tofo e ao nosso programado camping. Rolou certa decepção entre o valor cobrado e o que era oferecido, mas tudo bem. Estacionamos o Pezão embaixo de uma amendoeira, o que garantiu a quase ritmada sinfonia de quedas de amêndoas com o tamanho de maças no capô e na barraca.
A praia de Tofo era simplesmente fantástica. Água azul, ondas suficientemente grandes para um surfe de peito e 28 graus de temperatura. Nada mal. Aproveitamos esse cenário para fazer um inusitado passeio: safári marinho. Assim como nos safáris em terra, os moçambicanos prometiam achar e colocar você próximo a tubarões-baleia e golfinhos. Esse programa nos pareceu imperdível, até porque, diferentemente dos outros safáris, nesse você pode andar, ou no caso nadar, junto aos animais.
Saímos no final da manhã animadíssimos para o nosso novo safári. Depois de colocarmos o bote no mar e navegar por quinze minutos, estávamos prontos para começar a “caçada”. Novamente nossa arma era a máquina fotográfica, só que dessa vez com a caixa estanque. Nosso “alvo” principal era, sem dúvida, o tubarão-baleia. Navegamos em marcha lenta por meia hora. O sol estava no auge, segundo eles propositadamente para melhor avistar o bichano. Nossas cabeças começaram a cozinhar, o que fez com que o guia propusesse uma pausa para um mergulho. Realmente era igual ao safári em terra, um exercício de paciência.
A euforia em procurar o tubarão foi diminuindo ao mesmo tempo em que começávamos a nos maravilhar com a paisagem. Um espetáculo por si só, já que a busca acontecia a menos de duzentos metros da costa. É um litoral extremamente semelhante com o do Nordeste Brasileiro, repleto de coqueiros, porém agraciado com uma tonalidade de azul na água que não encontra vestígios no litoral da Bahia e demais. Estávamos quase desanimando em ver algum animal no nosso safári, principalmente porque os outros barcos que se aproximavam informavam igual falta de sorte. Porém – sempre há um porém – nosso comandante deu uma olhada mais focada em um ponto do horizonte. Já o tinha visto com esse olhar antes, então começava a desconfiar de blefe, mas dessa vez ele gritou, com um sorriso: “Preparem-se para entrar na água!”. Inacreditável! Eu já estava contabilizando o prejú das buscas sem fim!
Colocamos o mais rápido possível as máscaras. Mal deu tempo de olhar para a Du e checar a máquina fotográfica. O cara começou a gritar: “Pra água! Pra água!”. Nem pensei duas vezes e pulei na água. Olhei ao redor ainda meio tonto por causa da rodada no mergulho e vi o monstrengo vindo na minha direção. Olhei com calma e consegui a primeira foto. Por sorte ele vinha para perto. Vi a Du ao meu lado no mesmo momento em que ela também avistou o peixe gigante. Ele agora passava bem ao nosso lado, mas sem a menor intenção de parar. Consegui virar a máquina para filmagem e comecei a nadar atrás dele. Com a multidão indesejada a sua volta, ele iniciou um mergulho lento, porém constante, e nada o fez parar. Segui-o até uns cinco metros de profundidade, mas desisti rápido. Nossa experiência com tubarões baleia sumiu na imensidão azul.
Voltamos ao barco totalmente eufóricos. Tínhamos visto e nadado juntos ao gigante do mar! Falei pro piloto: “Excelente trabalho, capitão! Como conseguiu ver o bicho?!”. Seu sorriso satisfeito e seu queixo empinado responderam a pergunta. Naquela hora, ele era O cara.
Continuamos a rodar, agora bem mais relaxados. Tivemos ainda tempo para mais um mergulho: golfinhos. Avistamos um pequeno grupo e novamente aconteceu a correria para o mar. Novamente pulei de costas com a máquina na mão e, depois de entender onde era em cima e onde era em baixo, vi a Du nadando desesperadamente na superfície. Como eu não via nada além de mergulhadores, comecei a nadar atrás dela. Olhava para ela, cada vez mais eufórica e nadando com braços e pernas como se fugisse de um tubarão faminto, e, na sua frente... Nada! Desisti, pensando que ela tinha enlouquecido com tanto sol na telha, e parei de nadar. Depois ela me contou, completamente ofegante, que estava vendo os golfinhos. O problema é que eles se negavam a parar para um bate-papo. Voltamos comemorando o sucesso na empreitada e a inclusão do imenso tubarão-baleia na nossa galeria de interação com animais. Tínhamos chegado aos Big Six!
Mike e Christina decidiram levantar âncora e seguiram viagem. Nós mantivemos a programação de passar mais algumas noites. Aproveitei para agendar um mergulho para o dia seguinte. O lugar valia certamente. Às quatro da manhã, chuva. Chuva, não, temporal! Um temporal sem precedentes na África para nós. Chovia torrencialmente sem parar e a batucada de amêndoas só fez aumentar de ritmo. Voltei a dormir a fui acordado logo depois pelos trovões. Olhei novamente para o relógio: cinco e pouco. “Tranquilo. O mergulho é somente às oito, então dá tempo para parar de chover”. Novamente, enganado. Às sete horas, quando o despertador tocou, o chuveiro celeste ainda estava ligado no máximo e o reservatório de água parecia infinito. Levantei somente por desencargo de consciência e liguei para a operadora de mergulho. Obviamente, não haveria mergulho cedo pela manhã. Pediram para ligar mais tarde. Às nove horas, o tempo... Continuou chovendo. Acordei a Du e propus irmos embora. Nem me dei ao trabalho de ligar para a operadora. Estava claro que devíamos usar da vantagem de estar de carro e zarpar em busca do sol.
Passamos, pela primeira vez, por uma complicada operação de fechar a barraca com chuva forte. Tínhamos fechado com alguns pingos, ou corrido para evitar uma chuva que se aproximava. Mas, dessa vez, foi do início ao fim debaixo d’água. A sorte é que o frio passava longe do Moçambique nessa época.
Saímos em direção ao sul. Nosso objetivo era a capital, Maputo. Não por algum interesse específico na cidade, como quase sempre ocorre com as capitais. Mas sim pelo posicionamento estratégico que ela tinha na nossa rota, bem no caminho do litoral sul do país. De Tofo até Maputo eram mais de quinhentos quilômetros, então não sabíamos se daria tempo de chegar até lá. Dependeria das boas condições da estrada e da falta de imprevistos.
Rodamos tranquilos e, como quase sempre, sem contratempos. Almoçamos o famoso pão com queijo de sempre no Pezão e paramos somente para ir ao banheiro. Como as estradas também não eram problema, seguimos em velocidade de cruzeiro até chegar a Maputo no meio da tarde. Depois de quase uma semana acampando nas praias do litoral norte, era hora de um pouco de conforto, então combinamos em pegar um hotel um pouco melhor. Achamos um do tamanho que queríamos e aproveitamos o bom quarto, o ar condicionado!, e a internet.
Nossa estadia em Maputo foi pacata. Ficamos a maior parte do tempo no quarto, saindo somente para jantar em um restaurante em frente e para uma tentativa de ir ao cinema. Tínhamos muitas saudades desse programa e como estávamos em um país de língua portuguesa queríamos aproveitar a oportunidade das legendas. Novamente, enganados! O único cinema da cidade era uma verdadeira terra arrasada. O jeito foi voltar para o hotel, já que a chuva ainda caía.
Após o curto refresco em Maputo, as saudades do mar já se faziam sentir, então era hora de voltar à praia. Nosso último pé na areia no Moçambique era também o último do próprio país no seu limite sul – a praia de Ponta do Ouro ficava a menos de quinze quilômetros da fronteira com a África do Sul.
Saímos bem cedo em direção ao ferry que nos levaria ao outro lado do rio em Maputo. Após curto passeio, levantamos âncora em direção à Ponta do Ouro. E a chuva? Incansável! “De onde vem tanta água?”. Sabíamos que a estrada era de terra, o que poderia ser um pouco preocupante depois de tanta chuva. Após passarmos um ou outro trecho enlameado, a preocupação deu lugar ao divertimento. Minha interação com o Pezão em terrenos escorregadios era quase pornográfica, então fizemos do caminho um pequeno rally. Apertei um pouco o ritmo, só o suficiente para curtir as curtas derrapadas nas valas e, principalmente, rir dos gritos da Du. Depois da clínica de pilotagem em lama no Serengeti, qualquer barro virava alegria. O único senão foi o aspecto do Pezão – lama dos pés à cabeça. Ou do teto aos pneus. Valeu até a parada para fotos. Chegamos felizes, nós três.
Ponta do Ouro é um presente. Na verdade, um presente para o pessoal da África do Sul. A proximidade com o país fez da cidade um dos destinos preferido dos sul-africanos. Águas azuis e incrivelmente quentes, principalmente se comparadas com o litoral mais ao sul, produziram um efeito turístico imenso na cidade. Somente para ilustrar, basta dizer que se utilizam mais os Rands, moeda da África do Sul, do que os Meticaismoçambicanos. A vantagem para nós foi poder aproveitar a estrutura local, principalmente para mergulhos, apesar de essa estrutura tirar um pouco o ambiente mais intocado que tínhamos curtido nas praias anteriores.
Paramos em uma espécie de camping/operadora de mergulho/alojamento, bem ao final da praia principal. A chuva continuava companheira constante, e como o camping não dispunha de uma área comum coberta, optamos por pegar uma casinha no final da praia. Já na chegada dei um jeito de arrumar uma lavagem pro Pezão e, enquanto esperava, dei um pulo na operadora de mergulho. Lá conhecemos o casal Ryan e Claire. Ele, sul-africano, e ela, americana. Trabalham na operadora de mergulho durante a alta temporada.
A estratégia de ficar na casinha ao final da praia foi boa, pois no primeiro dia a chuva permaneceu. O pessoal da operadora marcou o mergulho bem cedo. Bem cedo, chovendo, foi a fórmula suficiente para a Du pipocar para o mergulho. Saí sozinho, na base da força de vontade. E valeu a pena. O tempo deu uma leva melhorada e o mergulho foi bem legal, apesar de não termos visto nenhuma grande novidade. As novidades estavam guardadas para o próximo mergulho.
No dia seguinte parti com Ryan e Claire para um mergulho com tubarões. Ele é biólogo e está no meio de uma pesquisa com tubarões. Com tal especialista a bordo, eu tinha a certeza de que alguma coisa veríamos. A Du não pode ir nessa, pois era um mergulho profundo, então lá fui eu novamente caminhando pela manhã.
Assim que começamos a descer, o primeiro tubarão apareceu: um bull shark. Desci maravilhado pela transparência da água e pelo lento nadar do tubarão. Vi quando Ryan se aproximou para tentar coletar uma amostra de pele para estudo. Me preparei para registrar o momento que ele iria disparar o arpão que continha o coletor de amostras na ponta. Enquanto esperava Ryan aproximar-se do tubarão, olhei no entorno. Lembrei de olhar também para cima, algo que eles tinham recomendado. Para quê?! Um imenso tubarão-martelo estava passando oito metros acima da minha cabeça. Não acreditei! Subi alguns poucos metros e tirei uma foto. Olhei para baixo e vi que Ryan estava a poucos metros do bull shark e, antes que eu pudesse pensar em descer, ele atirou e coletou a amostra. Olhei para cima novamente, a tempo de ver o martelo sumindo no azul. Olhei para baixo e vi outro bull e duas garoupas não muito menores que o tubarão. Por mim, poderíamos voltar ao barco. O mergulho já tinha valido.
Continuamos passeando e apreciando, mantendo a expectativa de ver mais tubarões. Demos mais sorte ainda. Pouco depois, consegui ver um pequeno grupo com meia dúzia de martelos. Os tubarões estavam um pouco longe e deixaram um grupo de mergulhadores entre mim e eles. Comentando com esses mergulhadores sobre aquele momento em que vi a meia dúzia de martelos, eles disseram que o cardume tinha mais de vinte.
A sorte ainda não tinha terminado seus cartuchos e o último tiro saiu na forma de um tubarão tigre. É uma espécie rara e de fama agressiva, mas passou em total paz seguido pelas suas rêmoras. Hora de voltar ao bote.
Todos estavam eufóricos, principalmente pelo tubarão tigre. Um mergulhador falou que mergulha na área há dez anos e nunca tinha visto um. Ponto pro Índico!
Voltamos ainda cedo, e o sol finalmente brilhou forte. Foi um dia fenomenal, novamente aproveitando o sol e tentando uma novidade: o tal do Stand Up Paddle Surf, que também virou moda nas praias do Rio. É uma prancha grande na qual você fica, ou pelo menos tenta ficar, em pé e usa um remo grande para se deslocar. Para mim, foi uma catástrofe – não consegui ficar em pé o suficiente para começar a ficar divertido. Para a Du, uma catástrofe maior ainda. Ela até que ela estava indo bem, conseguindo se equilibrar na prancha melhor do que eu. O problema foi quando ela foi tentar uma aventura perto das ondas. Ela caiu – normal. O problema foi que as ondas arrastavam a prancha com muita força. Com medo de machucar a perna ou atingir alguém com a prancha, a Du, apesar de bem intencionada, tomou a decisão errada de tentar segurar a prancha pelo meio do estrepe. Quando comecei a correr na sua direção, ela estava com duas voltas do estrepe na mão. Não deu outra: a prancha deu um puxão que arrancou sua aliança e machucou sua mão.
Peguei a prancha, enquanto a Du chorava de dor. Conseguimos um gelo no bar, o que quase a fez desmaiar. Ficamos com medo de ter quebrado algo, mas a mão, apesar de inchada, parecia no lugar.
Nessa noite, com a mão da Du um pouco melhor, saímos para jantar com Ryan e Claire, que nos levaram para um restaurante muito simples, com a cozinheira mais simpática e com a melhor comida do Moçambique. Comida caseira, feita com carinho – tudo o que precisávamos. Antes, tomamos alguns R&R (Rum e Raspberry), um drinque vermelho que era servido em uma caneca com mais rum do que xarope. Obviamente, nos subiu à mente, o que garantiu as risadas da noite e a ressaca do dia seguinte.
Passamos uma noite péssima, o que nos fez sentir saudades da barraca. Muito calor e muitos mosquitos. Muitos mesmo. Os pequenos cortinados não resolviam o problema – a Du tinha mais de trinta picadas no cotovelo! Estávamos tomando o remédio para malária e aquela era a hora de ele fazer jus ao espaço na bagagem.
Saímos em direção à África do Sul. Passamos na operadora de mergulho para nos despedir de Ryan e Claire e seguimos para a fronteira.
Nossas expectativas em relação à África do Sul eram de desenvolvimento. Isso pareceu que ia se concretizar, pois, quando chegamos à fronteira, as estradas de areia novamente deram lugar ao asfalto.
Era hora de dar adeus ao Moçambique, com sua língua portuguesa e suas praias, e chegado o momento de conhecer o país mais ao sul do continente africano.